Me rasgaram o peito e da fissura saíram borboletas e outros seres de asas

Engasgado, preso às minhas entranhas, está uma necessidade de cair no choro e uma impressão de redenção que há muito não sentia. Foi catártico. Ontem, a noite, depois de meses de dor, agonia, angústia e descrença, de sensação de irrealidade e de ver sonhos mortos e frágeis pequenos desejos escondidos em gavetas, como um soco, como uma locomotiva desenfreada, bateu em cheio na minha vida uma nova vontade de viver. De repente, eu sei o que eu quero fazer, e eu sei o que tenho desejo, e quero ser capaz de realizar, e me sinto motivado e pronto e a postos. Estou disponível. Estou aqui.
É curioso como a resposta já estava em mim há muito tempo. Me rondando, sussurrando no meu ouvido, me seduzindo. Eu evitava olhá-la nos olhos, parece que não me era permitido, que era irreal demais para que eu pudesse considerá-la de fato. Mas eis que não é. Eis que alguém me diz: não é impossível. E quer saber? Dói. Dói não ser impossível. Dói descobrir subitamente que estava tudo lá, que bem dentro em mim, por entre os músculos e os ligamentos, já estava tudo lá, já estou preenchido dessa não-impossibilidade. É uma dor que, ao invés de me paralisar como a falta de empatia e sensibilidade que eu vinha testemunhando até então, me move. Me impele. Quero chorar enquanto parto pra cima desse monstro que eu quero ser capaz de vencer. E aí me vejo sonhando de novo, e parece que sonhar é meu combustível de vida, que sonhar é parte integral do meu ser e que se eu não sonho sou infértil e insosso e insensível. Obrigado por me fazer lembrar que eu posso (devo - quero!) sonhar. Eu me escuto! Eu me escuto agora! Eu ouço o que eu mesmo estou me dizendo a meses - não, meses não, anos! Eu preciso disso, eu sinto que isso é parte de mim, aí está minha resposta, aí está todo o meu medo e minha odisséia, meu destino e meu motivo. É como se, agora que eu abri o portão, meu corpo inteiro se projetasse em fúria, em ânsia de completude - está tudo lá! Está tudo lá, e tudo aqui, e eu quero sentir, quero passar por tudo isso.
É bom estar vivo.

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