É tudo muito bonito, mas sei lá

Vagueio ou passeio, não decidi ainda o verbo, por entre páginas e mais páginas de autores e mais autores, buscando um significado pra um não sei o quê que venho sentindo a um tempo. Nem no dicionário nem na poesia encontro alguém que me diga o que é isso que quica ou que transborda, ainda não decidi o verbo, aqui dentro. Nem eu sei bem como dizer o que está acontecendo, dar um nome, definir e analisar. Sei que espero o momento em que possa ir embora, viajar, conhecer, descobrir, fascinar-me.
Isso eu sei, mesmo, que é algo que sinto falta: fascinar-me.
Esse amortecimento que vai descolorindo as linhas e formas, agora já transparentes, parece ecoar. Um apartamento vazio de alguém que se prepara para mudanças. Antigamente eu via a mudança como algo dolorido e complicado de lidar - algo para se evitar, de preferência. E agora parece que tudo que eu quero é encaixotar coisas e ouvir o eco do adeus rebater nas paredes da casa vazia.
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Não estou mais cabendo. Percebi isso gradativamente. Percebi isso devagar, mas gradativamente mais rápido. Começou quando não coube em minhas roupas, depois na minha cama e nos lençóis brancos, depois dentro do meu quarto e já dentro desta casa não caibo mais, não caibo mais nem mesmo nessa cidade inteira. Alucinadamente, como uma locomotiva, como Vangogh pintava, não caibo mais em lugar nenhum.
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Inversamente proporcional é o gosto do cotidiano. As vezes esqueço esse nó que não sei desatar e me divirto com tudo que vivo e desvivo de segunda-a-segunda, emaranhado entre ação e pensamento. Olho as pessoas, vejo seus rostos, e acho tudo muito prazeroso, de alguma forma. O eco está lá dentro, ainda, rebatendo. Mas eu o coloco de lado e ajo. Parece que eu só consigo ouvi-lo quando eu silencio. Quando eu deixo o silêncio reinar.
Antigamente eu acreditava que isso era falta de alguéns, hoje sei que é falta de mim. De tanto não caber, fui embora.

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