Uma questão do amor e seus segredos

Vi um balão vermelho se soltar. Vi ele subindo, subindo, subindo. Ganhando ares.
Ele percorreu milhas e mais milhas na vertical, vertiginosamente atingiu as nuvens e então uma brisa o pegou de surpresa. Empurrou ele pra outros lados, outros mares, outros.
Aqui as coisas continuam bem. Não teve grandes revoluções. O mundo vai girando e a gente vai girando junto. Ninguém puxou o breque, sabe? A cidade continua a mesma, acho. Nós todos continuamos iguais, meio estáticos talvez. Parece que não existem furacões por aqui.
De dentro de um guarda-roupa velho saem algumas lembranças, uns primeiros dias, uns primeiros contatos. Alguém aqui sabe a alegria de aproveitar uma caminhada sozinho num lugar desconhecido? Conhecem a liberdade dos silêncios? Sabem que as memórias e as grandes verdades vem mais da dor do que da felicidade?
Eu tenho tanta saudade de tanta coisa. Tanta gente, tantas sebos, tantas horas de transporte público. Acho que carro emburrece a gente.
E aí o balão me envia umas formas geométricas, uns cantinhos de países imaginários. Dá uma saudade em mim de mim mesmo - de todos nós. De um silêncio que eu não conheço mais. De uma felicidade que convivia com a dor e que sabia que ambas são amigas, que se gostam e que se conhecem muito bem, obrigada.
Ele me diz coisas que são verdade, ele me pede verdades que eu nem posso dar. Acho que eu não digo pra mim mesmo verdades mais. Talvez seja a hora de pôr um fim em algumas coisas, de libertar alguns segredos. Talvez seja a hora de voltar.
E enquanto o balão vermelho vai me mandando recortes coloridos de um país das maravilhas, eu vou buscando silêncio.

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