Particular de todo mundo

Eu já vi Rei Leão umas oito milhões de vezes. Sei todas (todas mesmo) as falas de cor, até os rugidos e as onomatopéias, e fui assistir ao filme por que é tipo o filme da minha vida (ficam ele e o Toy Story 3 aí no fight). Ele diz muito a respeito da minha personalidade, de alguma forma, já que eu cresci assistindo e convivendo com esses personagens. Formação de caráter, praticamente.
Pois bem. Fui eu esperando um 3D bem inocente, como os de Toy Story 1 e 2 e suas re-exibições. Fui esperando ver meu filme preferido do jeitinho que eu sempre vi, o mesmo gosto, o mesmo sabor, na telona.
No primeiro aspecto, fui surpreendido. Sem nenhum trailer antecendendo, o filme já começa com um 3D fodido na abertura clássica do ciclo da vida. Arrepios, lágrimas, viadage. Pra quem for macho, pelo menos um sorriso, né?
No segundo aspecto, não fiquei nem um pouco decepcionado. Está tudo lá. Talvez uma ou duas frases re-dubladas, mas nada que te enraivessa. Só um gritinho novo, uma risada que sumiu. Nada demais: é o mesmo filme de sempre. Ainda bem.
E por isso mesmo não vou falar do filme, né caraio? Todo mundo sabe como o filme é awesome e isso nã oprecisa ser dito. Vou falar do que é essa re-exibição num cinema.
Claro que, na minha relação extremamente pessoal com o filme (como foi com Toy Story 3), o valor das coisas é bem maior que para a maioria da platéia. A começar, por exemplo, pelo monte de crianças comentando um filme que eu assisti na idade delas. Não nego: a principio, morri de raiva. Mas logo entendi que muitas dessas crianças tinham o filme na sua infância como eu tinha também. Isso por que a grande maioria dos pais dessas crianças tem mais ou menos a minha idade, e, provavelmente, deram aos seu filhos o prazer de assistir esse filme antes de saber que ele seria re-exibido. Como eu fiz com meu sobrinho.
E é exatamente isso: esse filme fez parte da infância de todo mundo, e todo mundo é tão saudosista com ele (merecidamente), que entregam essa jóia para a geração seguinte, que não pode crescer sem conhecer o reinado de Simba, sem a filosofia do Hatuna Matata (na dublagem maravilhosa da versão brasileira). E é tão todo mundo, mas tão todo mundo, que o filme de 1994 lotou a sala de gente usando óculos, muitas dessas pessoas sabendo as falas de cor, como eu.
E aí fica a mágica que eu vos digo: vão assistir. É sério. Não percam essa oportunidade, se o filme for importante pra vocês, por que existe um sentimento de compartilhamento tão inerente e íntimo, que eu me senti amigo de todo um cinema quando os três personagens do filme começaram a cantar Hatuna Matata e a platéia toda seguiu. Todo um cinema cantando feito criança uma música de um desenho animado de 1994. O quão fantástico é isso? A sensação de que eu voltei a ser criança e tou de frente pra tv da minha sala, cantando animado e dizendo as falas, e compartilhando isso com todos os meus amigos que também amaram o filme vale cada centavo do ingresso. Um amigo meu disse que é quase como ir a um estádio de futebol ou a um show que a platéia é muito fã do artista. Eu digo que a sensação é ímpar: por que é muito íntimista. Era uma multidão e eram todos meus amigos, eram todos meus comparsas e estavam todos sentados no meu sofá. E ninguém se importa de vocês dizer as falas junto, cantar com o filme, conversar sobre ele, levantar no meio. Por que ele já foi visto tanta vezes e é tão nosso, tão pertencente, que é quase como re-encontrar um velho amigo depois de muito tempo e ter as mesmas conversas de sempre. É um breque no envelhecimento, é se permitir ser criança junto com todos os outros adultos, com as crianças, com todos. Inacreditavelmente, é um filme que une as pessoas. Desde 1994.

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