Originalidade é perda de tempo
- Alô?
- Olha eu queria só te dizer que é impossível fingir que na verdade eu não estou aqui quando eu estou aqui sempre do seu lado pensando que independente do que acontecer entre você e eu você e eu você e eu e etc na verdade sempre houve e haverá alguém mais interessante para frear qualquer processo que possa acontecer nesse entre-meio dos dois corpos seu e meu isto é aqueles que nós sempre pensamos ser os mais importantes numa qualidade egocêntrica que reflete a respeito do umbigo do universo e dos parâmetros que as outras pessoas a sociedade na verdade deve seguir se por um lado a gente consegue se quer pensar numa linha a ser seguida ou um jeito determinado de uma sociedade qualquer ser que não venha a comprometer eu e você e esse momento que nós vivemos intensamente como qualquer casal normal faria próximo a um aniversário de um dos dois que espera pacientemente pelo presente de sempre aquele mesmo previsivel ganhado no ano anterior e no ano anterior e no ano anterior e no ano anterior e no ano anterior e assim progressivamente as avessas como sempre o mesmíssimo embrulho o laço de sempre a verdade dentro da caixinha mínima que se finge de importante enquanto que entre nós nunca há nada nem laço nem presente nem caixa nem embrulho nem aniversário nem sociedade que dirá qualquer coisa que se possa chamar casal ou da casualidade de um ser que pensa existir alguma relação entre ambos que não esse mínimo seduzir enquanto compra ou comprar para que seja seduzível ou seduzir para comprar enquanto que o normal entre o meu corpo e o seu não existe mais que algumas centenas de quilômetros de distância quando na verdade estamos bem um ao lado do outro ou dentro do outro numa sequela que não deixa rastros nem vestígios entre cidades e estados quiçá países mas esse eu não creio de fato acho que somente pode existir eu e você se a distância entre nós não for mais que a conta de telefone capaz de vir por esses dias e penetrar a minha caixa de correio como se fosse aquela mesma coisa que a gente faz sempre ou fingia ou pretendia fazer numa simplicidade mórbida de quem já conhece o código e já sabe o que vem em seguida para que nem sempre seja previsível o irmão que chega súbito ou o horário que impede qualquer tipo de toque além de um beijo mal dado e meramente perdido dentro de algum veículo como um ônibus um navio ou uma espaço-nave que de qualquer forma não faz tanta diferença nem para mim nem para você que segue cada um sua própria vida pensando nesse outro corpo agora presente no meu toque no meu cérebro na minha memória subvertida em palavras simples e diretas nesse telefonema que na verdade é uma pequenina declaração de amor.
- ...quem tá falando?
- Tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu...
Comentários
Não que eu não tenha gostado.
Agora, o que esse texto pretende, se é que ele pretende algo, permanece um mistério.