Pós-guerra

Depois de todas aquelas balas de "Eu te amo", a bomba atômica final nem parecia tão ofensiva assim. O vibrador azul era até bem bonito, mesmo que fosse ficar escondido pra todo o sempre dentro de alguma gaveta, e fora um presente de dia dos namorados até bem vindo para Estela. Seu namorado ia passar um ano no intercâmbio, lá na Inglaterra, explorando novas possibilidades econômicas ou qualquer coisa assim e, como não queria que a namorada ficasse sem pica devido a distância, fez a gentileza de comprar um peru de borracha, enfiá-lo num pacote rosa-yogurte, e dá-lo carinhosamente depois de um almoço num restaurante japonês. Claro que Estela nem chegou a tirar o pinto de dentro da caixa, mas sorriu gentilmente e agradeceu com o rosto corado. À noite, com o pênis na mochila, ela foi levá-lo até o aeroporto e se despediu com um beijinho molhado no lábio inferior, que deixou o marmanjo cheio de batom na boca.
Mas agora, dia 13 de julho, quase 20h30, Estela balançava pensativamente a rola azulada em frente ao rosto e pensava que seu namorado logo mais estaria chegando à Londres, onde haveriam muitas londrinas (e londrinos, por que não?) com bucetinhas prontas pra afagar um falo. Ele tinha deixado ela com um consolo, e ela não dera algo que desse pra ele, que deixasse ele satisfeito e sem a necessidade de enfiar o cacete em qualquer buraco que aparecesse alheio à situação, num metrô ou na Picadilly Circus, por exemplo. Começou se sentindo culpada, por ser uma péssima namorada e não ter pensado nessa idéia fabulosa antes do rapaz ir embora. Pobrezinho, sem sexo e sem vagina por um ano! Isto é, se é que ele se daria ao trabalho de polpá-la dos chifres. Com ódio crescente, ela começou a bater a piroca na cabeceira da cama, gritando impropérios indignos de serem ditos em um texto tão romântico. Para esquecer o assunto, ela foi até a sala e ligou uma televisão de 29 polegadas que passou a dizer-lhe que o avião de seu namorado havia caído e que, provavelmente, ninguém teria se salvado.
Desesperada, sem saber o que fazer, agarrou a benga de borracha e passou a beijá-la entre as lágrimas, pedindo desculpas e clamando por sobreviventes, especialmente aquele que deixara um sósia de seu órgão genital em suas mãos.

Comentários

Victor disse…
O que você ainda está fazendo aqui, na internet, e não em algum jornal? Esse texto está mesmo do caralho, e acho que você deveria adotar o léxico chulo, dá muito mais charme pra essas tragédias-absurdo :)
Unknown disse…
Odiei os termos sujos e tal, só terminei de ler porque é seu mesmo '-'. A historinha é bonita e final é surpreendente, mas, uh... É, não sei o que falar HDUAHEUAH
Só acho que de modo menos descarado, mas ainda direto, ficaria mais marcante -oq

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