Gorjeta

Entrou silencioso na lanchonete, olhando de esguelha a garçonete bonita. Sentado no banco, pediu um misto-quente, mas lembrou-se que era vegetariano. Pediu para que retirassem o presunto, mas lembrou que era intolerante a leite e derivados. Pediu que retirassem o queijo mas lembrou que pão engordava.
Desgostoso rodou todo o cardápio. Café tem cafeína, refrigerante tem muita caloria, suco precisa de açucar, adoçante é muito industrial, água é muito sem graça.
Então a garçonete se encheu dos pedidos e despedidos do rapaz e disse, farta:
- Por que não pára de comer e não morre de uma vez?!
O rapaz não ergueu os olhos do cardápio logo em seguida. Muito devagar, como quem toma uma decisão, foi baixando o papel, levantando a cabeça e, ao olhar nos olhos da garçonete que franzia as sobrancelhas, severa, sorriu com o canto da boca.
Então levantou-se, tirou a carteira de dentro do bolso de traz da jeans surrada e de dentro da carteira tirou uma nota de dez reais. Colocou sobre o balcão, meneou com a cabeça e, virando-se para a saída, disse num tom baixo:
- Fique com o troco. É sua gorjeta.

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