Metáforas ruins para uma pessoa sem criatividade
De vez em quando meu mundo vem em forma de prosa. Nesses dias, eu estou racional, penso por todos os ângulos, vejo todos os personagens, assumo posturas, narro em primeira pessoa.
Outras tantas vem em forma de texto dramático. Aí eu faço cena, abdico ou não o realismo, leio como eu quiser, dou a intenção que eu preferir, ignoro ou não a rubrica.
Por vezes vem em forma de dissertação. Então eu analiso tudo, aponto prós, contras, me coloco a favor ou contra, tento não me manter neutro, tento sempre concluir o dia de forma a reafirmar minha posição e, se possível, propor uma solução para os problemas.
Também vem meu mundo em forma de poesia. E aí eu faço o que eu quiser, sem ninguém me olhar torto. Vejo vocabulários que ninguém vê, sinto gostos que ninguém sente, entendo as pessoas por dentro. Fico misterioso, ambíguo, com alguma dualidade aparente. E ruim, em geral.
Ainda há dias em que meu mundo vem fantasiado de crônica. Aí eu debocho de tudo, me faço de irônico, saboreio o sarcasmo, evoco paralelos e comparações junto a metáforas que expliquem muito mais do que o necessário. Esdrúxulas, em geral.
Também posso amanhecer meio conto. Aí eu finjo que sou outra pessoa, invento uma outra história, desenvolvo um personagem que, no fim, sou eu mesmo me fazendo, sou eu contando, eufemista, meus próprios problemas através da boca de outro, com metáforas sem graça.
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