É por isso que eu gosto de andar ônibus
No fundo, naqueles bancos de cinco lugares, nas extremidades de cada um, um homem e uma mulher, ao celular. Ambos olham a janela, absortos.
- Alô, tá ainda aí?
- Roberta? Alô, Roberta?
- Seria legal se você demorasse menos pra me responder.
- Ah, amor, que isso, não gosto dessas brincadeiras.
- Não sou sua namorada, Fernando, não sou nada sua.
- Ué, por que?
- Não e pronto, não adianta insistir.
- Mas então como você vai fazer pra me ver?
- Não, Fernando, não. Não quero e não vou.
- É culpa dele, de novo?
- Ah, larga de ser babaca.
- Você fica fingindo que não, mas eu sei que ele é que te traz todos esses problemas. Eu sei que é tudo culpa dele.
- Não, Fernando! Mas meu Deus do céu! Que ódio de você e dessa sua mania. Já chega, cansei de você.
- Que horas no seu apartamento?
- O que?
- Alô? Que horas, Roberta?
- Sei lá, quando der, não me faz diferença. Você tem a chave, entra lá e faz o que precisa.
- Roberta, Roberta, por que você não confia em mim e não me diz a verdade?
- Pega o seu poodle ridículo, Fernando, e enfia no cu! Tá bom? No cu! Depois faz dele cotonete ou sei lá!
Ela então desliga o telefone e, brava, fica encarando a janela.
- Roberta, não acredito que seja tão sério assim. Seu pai não teria coragem de bater em você, sério.
Santa coincidência, batiman!
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