A título de pesquisa

- Não! Não volte mais aqui. Pelo amor de Deus, não.
E bateu o telefone com força no gancho.
Os lábios tremendo, suspirou um pouco, sentiu o rosto quente, corado talvez.
Passara três semanas inquieto com os olhares dos vizinhos do prédio, tanto os do mesmo andar quando os de cima e os de baixo. Sorria inocente para eles, que lhes devolviam um sorriso cúmplice. E aí ele não entendia o porquê de toda a simpatia por parte deles. Alguns vinham mesmo lhe perguntar se estava tudo bem, durante a semana, e quando dizia que sim, eles lhe sorriam o mesmo sorriso e, meneando com a cabeça afirmavam "Que bom, que bom".
E isso começara desde que trouxera sua melhor amiga pro seu apartamento novo. Não eram mais melhores amigos, de fato. Ele não sabia bem como chamar aquilo, mas amizade pura e simplesmente que não podia ser. Normalmente não comemos nossos amigos, certo?
Era uma loucura. Nunca tinha feito sexo como fazia com ela. Desde que começaram a transar, ele sentia que finalmente o que é que "sexo" queria dizer. Há duas semanas sentia-se finalmente sexualmente ativo, parecia que tinha perdido a virgindade de novo. E olha que a sua primeira vez não tinha sido nada mal.
Eles vinham se encontrando regularmente. Toda sexta à noite, os dois viravam a casa pelo avesso nas mais diversas posições sobre as mais diversas superfícies. Talvez ela fosse uma louca tarada ninfomaníaca, mas ele parecia não ligar muito. Já quebraram quatro copos e um vaso, desde que tudo começou. No domingo ela ia embora, satisfeita e sorridente (tal qual ele), dona de si, e deixava o edredon pelo chão, o sofá virado, as almofadas na mesa. Pra ele arrumar.
E ele arrumava de bom grado. Depois de gemer alto por duas noites e um dia, ele arrumava tudo feliz, ouvindo música alta, normalmente ainda de cueca, no domingo mesmo. À noite estava exausto, dormia cedo e ansiava o resto da semana pela próxima festa a dois.
Foi só quando a vizinha do lado apareceu pedindo pra eles gemerem mais baixo, na segunda de manhã, que ele caiu em si sobre quão longe ia seu prazer. 15 metros de distância, pela cara dos vizinhos.
Já estava cansado deles batendo em sua porta, farto de responder suas perguntas pervertidas, quando ouviu a campainha, logo depois de desligar o telefone. Abriu a porta, exasperado, e gritou pro prédio todo ouvir:
- É, ELA É MUITO BOA DE CAMA E EU ADORO QUANDO ELA ME FAZ FIO TERRA, O QUE QUE TEM?
E a moça, assustada, abaixou-se para pegar uma prancheta com alguns formulários com o título Sexualidade.
- O-obrigada por colaborar com nossa pesquisa, s-senhor.
E saiu esbaforida.

Comentários

Victor disse…
HAHAHAHHAHAHAHAHAHAHA!

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