Feliz dia dos pais

- É sério, filho.

- Ah, qual é. Esse monte de absurdo não cola mais, pai. Já tenho 27 anos, vim aqui só pra não dizerem que sou mau filho. Como era mesmo? Bom filho a casa torna?

- Mas custa me ouvir mais uma vez, então?

- Tá bem, tá bem.

- Como eu dizia, no meu tempo não tinha essas coisas. Essa história de correio eletrônico, holograma, férias lunares...

- Sei, sei, vai dizer, de novo, que vocês assistiam os programas numa caixa de plástico com um vidro na frente...

- Que não transmitia cheiro nem sabor, sim, é verdade.

- Não adianta, é bobagem demais.

- Internet só com fio. Quando apareceu a sem fio, era restrito a espaços pequenos, normalmente em shoppings.

- Sei, e vocês usavam um treco DESSE TAMANHO que chamavam de laptop, né.

- E as maiores caixas de e-mail – que sim, ainda existia – eram de 2 gigas.

- Nonsense, pai. Tudo uma pantomima.

- As gírias eram mais simples, também. Balela, por exemplo.

- Last week, também, né. Last week é bem ultrapast, hein.

- É, naquele tempo não existiam unicórnios, dodôs, dinossauros de verdade...

- Milagres da genética, pai.

- Eu sei. Comigo era na base da imaginação, da fé. Deus ainda existia, naquela época.

- Hahahaha, que ridiculous!

- Não era todo mundo que sabia falar inglês, também. O português era valorizado.

- Ainda bem que isso mudou, lol.

- É, a gente ainda ria com “Hahahaha”, mesmo. Chat na internet só via texto. Com vídeo era lento e problemático...

- Que bobagem. Era só pegar um teletransportador e falar tudo a vivo.

- Mas isso é novidade. Você sabe que a gente ainda usava aquelas coisas cheias de botões que substituíram meu bom e velho MSN 11. Não faz nem dois anos.

- Right, right, você tem razão.

- A gente até fazia sexo, naquela época...

- NOSSA, que perda de tempo!

- É, e a gente nem vivia até os 120 anos.

- Vai dizer que ser bissexual era estranho, também?

- Era, mas estava começando a ser bem aceito. Acho que essa mudança foi bem gradativa, se você pensar...

- Sei.

- Epidemias eram comuns. Aparecia um vírus e as pessoas morriam de medo. Morreram milhões graças a AIDS.

- Estudei isso na escola, pai.

- Eu usava cadernos de papel, na escola. Escrevia com canetas. À mão.

- Oh shit.

- E ainda existia mata atlântica e cerrado pra contar história e o número de animais em extinção era bem maior.

- Viu só, melhoramos muito nesse aspecto.

- Sim, claro, se você considerar “Zoológico” como fauna.

- Ah, essa nostalgia é sem motivo, pai. Estamos muito melhores, mais conscientes, mais interessantes, mais responsáveis, mais inteligentes...

- E morrendo de calor com 3°C a mais.

- Vai dizer que calotas polares existiram e derreteram e que existe uma cidade perdida sob o mar chamada Santos?

- Não filho, não peço pra você acreditar em pantomimas.

Comentários

Victor disse…
Pare de debladetar sobre o aquecimento global como o senhor deblatera, parlapatão que é.
E feliz dia dos pais a todos os papais dos leitores do blog, ou eventuais papais que leiam-no eles mesmos :P

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