Das duas às quatro

Puxou a coberta pra cima da cabeça. A chuva molhava todo o quintal e batia com força na janela. Seu coração batia com força no peito. Respirando devagar, contando o oxigênio, nenhuma luz, escuro.
O cobertor roçando de leve o nariz. Alergia, espirro, falta de ar. Puxou a coberta pra baixo, respirou alto, alívio. O barulho do ar sendo sugado ecoou no quarto vazio. Sentiu vontade de levantar e acender a luz, mas a caminhada era muito longa. Muito longe. Muito medo.
Pensou nas coisas horríveis de sempre, nos pesadelos de todas as noites. Pensou no que viria a seguir, pensou em quão vulnerável estava. Pensou que não devia pensar nisso, que não ajudava em nada.
Parou de respirar um segundo. Ouvira um barulho, um estalo, um portão bater. Ouvira muita coisa, já, e nenhuma delas se concretizara no seu pavor, mas não confiava na experiência. Fixou o olhar na porta. Podia ver, a qualquer momento, qualquer coisa ali.
Virou-se de lado, as costas pra janela, e imediatamente se arrependeu. Estava mais vulnerável. Voltou a posição original, a cama rangendo muito alto, como que para denunciar que havia alguém naquela cama, naquele quarto. Os olhos arregalados tentavam enxergar qualquer coisa no escuro.
Já estava ali tinha umas duas horas. Não conseguia dormir, não conseguia não se preocupar. Rondando o quarto, alguma coisa, logo ali. A maçaneta virando, certeza. É agora.
Agarra-se ao travesseiro, fecha os olhos com força, fica de costas pra porta. Agonia, pânico. Um grito que não sai, um tremor que não existe, uma dor que não vem. Não ouve a porta abrir. Não houve nada.
Sua frio. Nega-se a abrir os olhos, os mesmos pesadelos pregados nas córneas, como que estampados nas pálpebras. Impedindo o sono de chegar. Cadê a manhã que não vem, eternamente adiada?

Comentários

Anônimo disse…
Essa manhã que não vem...

Postagens mais visitadas