ao relógio
Mas que saco! Seu duas-caras maldito. Se faz de meu amigo pra depois me trair assim, na cara dura. Quando eu não paro de te olhar, contando cada batida do seu ponteiro de segundos, observando os números que marcam minha desgraça, meu furor, minha obrigação, minha oportunidade, você pensa que é engraçado trabalhar devagar. Me bota numa tensão que hiper-valoriza o que quer que venha depois. Admito: parece ruim, mas a espera sempre compensa.
O problema é que você deve ter crise de carência, baixa auto-estima, complexo de inferioridade, sei lá! Basta eu parar de te dar atenção pra você enlouquecer a correr, desnorteando o sentido da espera, fazendo o que eu queria que durasse uma eternidade parecer uma insconstância e irregularidade no tempo. Não, minha atenção tem de ser toda sua, não é?
É bem feito quando você nada carinhosamente me acorda de manhã, com tapas e bofetões na orelha, gritando seus impropérios repetitivos que ardem os tímpanos, e eu faço questão de te bater e derrubar no chão. Minha revanche é doce e não poderia ser mais justa.
Mas talvez não seja culpa sua, penso. Pode ser traquinagem daquele seu parente distante, bem mais velho, que você, invejoso, tenta marcar. Tenta ser. Não se dá conta de que na verdade, a história de mais e rápido ou devagar quem controla sou eu, que, insatisfeito com o resultado, jogo a culpa em vocês.
Saiba, porém, que por maior martírio que as suas piadas sejam, seu-falso-fingido, sou masoquista e agradeço por me ajodar a valorizar os momentos em que você desembesta e corre feito um babaca, não tão raros ultimamente. Um dia eu ainda esqueço você de vez e vivo pra sempre uma vida que vai passar rapidinho.
Comentários
Que perfeição!
Acho que nunca vi alguém falar tão delicadamente acido sobre o tempo.
Isso dária um belo monologo, daqueles de um ator só que briga consigo mesmo o tempo todo, colocando a culpa nos objetos, nas estações, no tempo.
Cada vez mais virop seu fã, pelas palavras, pelo sentimento, por tudo aquilo que você diz, sam saber que era exatamente o que eu queria dizer!
Ser esxritor é ser cruel, e eu admiro muito aqueles que nunca desistem de suportar o mais absurdo da dor, por um texto, por uma compreensão, por apenas fazer literatura, como você faz!
AbraÇos de ventos e cores!
PSTMC.