Querido diário
Hoje acordei magro. Magérrimo de dar dó, diria minha mãe. Pra mim, tava na medida: tinha perdido, sei lá, uns vinte quilos durante a noite e isso fez com que eu olhasse muito bem para mim no espelho e me sentisse bonito. Me aceitei, sorri pra mim mesmo como um homem realizado e fui ao banheiro. Sob o chuveiro, percebi como estava esguio e me senti extremamente sensual. Não havia gordura sobrando, estrias, nada disso. Achei que podia conquistar quem eu quisesse. Mais até: o que eu quisesse. Hoje, se eu quisesse ser dono do título de homem mais bonito do mundo, eu conseguiria e não seria muito complicado. Hoje eu podia assaltar um banco e ainda sair ileso tudo com um sorriso e um charme pra cima da policial.
Com esse tipo de pensamento, me sequei e percebi como a toalha percorria bem meu corpo, que estava praticamente refeito. Andei, suave, pelo corredor, pisando o chão frio, e entrei novamente no meu quarto. Abri o guarda-roupas e escolhi uma calça qualquer entre as muitas que eu tinha. Coloquei-a e, assim que a soltei, ela caiu frouxa pelas minhas pernas. Coloquei um cinto e ela parou lá, cheia de dobras e frizos, mas parou presa na minha cintura. Estava extremamente larga nas coxas e eu quase não a sentia tocando minha pele. Muito esquisito, nada bonito, mas definitivamente era tudo que eu tinha. A camiseta, das menores e mais apertadas, também não ficou lá essas coisas: sobrou em todos os lados, me senti usando uma blusa de adulto num corpo de criança. Triste.
Então decidi que ia comprar roupas novas, pra me adequar à situação nova, de magro. Mas assim que saí, atraí muito olhares, e homens e mulheres começaram a me encarar, cobiçosos. Mesmo naquela roupa ridícula, eu era um deus. Magro.
Então tentei disfarçar, andei meio desengonçado, mas isso tornou o meu caminhar ainda mais sexy e, quando eu ouvi um gritinho de uma mulher próxima, senti-a me agarrando e percebi uma outra língua dentro da minha boca. Juntaram-se a ela mais algumas extremistas e eu senti-me todo apalpado. Dedos percorreram locais até então intocados do meu corpo e eu senti arrepios. Me esquivei, utilizando-me de minha nova condição, e escapuli em meio aos braços e mãos. Corri em disparada até um beco e me enfiei lá. Era bem apertado e ninguém que não fosse magro poderia me perseguir.
Decidi que a coisa estava um pouco exagerada. Tudo bem, eu estava realmente bonito, especialmente magro, mas não era motivo para ser atacado por mulheres, homens e seres de sexo indefinido. Não. Isso era tudo um sonho muito bom que estava rapidamente virando um pesadelo muito ruim.
Decidi que ia voltar pra casa, deitar na minha cama e esperar o tempo passar. Um dia a sociedade estaria pronta pra mim, seria capaz de me olhar não como o homem mais lindo e perfeitamente magro da face da terra, mas sim como um cara legal e extremamente bonito e belissimamente magro. Demorasse quanto fosse, um dia eu seria capaz de sair às ruas e não me tornar uma celebridade.
Me esgueirando pelas sombras, alcancei o portão de casa. Entrei, liguei a tv e resolvi passar alguns minutos assistindo. Eu tinha virado notícia: algum cinegrafista preparado arrancara uma câmera de algum lugar inóspito e tinha filmado meu delicioso caminhar e vendido em poucas horas para uma empresa televisiva, que anunciava uma matéria completa para o jornal da noite sobre o homem mais lindo e grandiosamente magro que a face da Terra já viu.
Então eu decidi que ia escrever um diário, a partir de hoje, deste fatídico dia. E cá estou, assistindo a mim mesmo resplandecer na televisão por mais de cinco horas enquanto escrevo nessas folhas de papel a minha frustração sobre como sou infeliz por ser tão incrivel. Sobre como eu sou perfeito.
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Querido diário,
Hoje acordei gordo.
Comentários
Aiii, que pessoinha irritaaaaante. Já é terrível quando alguém fica se achando. Qnd os outros super valorizam a pessoa, então, affe xD
É como a fama e a queda [ORLY]. Ah, isso me deixou confuso e pensativo, isso me irrita D:
Mas dane-se, a pessoinha do texto ficou feliz e fim
Não entendo essas pessoas que riem ds seus posts ._.
Não entendo essas pessoas que não cuidam da sua própria vida. :/
Acho que não peguei bem o propósito da coisa (rs), mas foi bem divertido de ler e imaginar a situação. =]
Ser direto é não ter argumentos, agora. Ok.
Vá tomar no cu!
Foi muita falta de argumento para você agora também? =]