Haikai Mal-feito

A dignidade de se andar, devagar, calmamente, sem pressa por uma chuva torrencial enquanto todos correm desesperados para baixo de coberturas é algo que poucas pessoas um dia serão capazes de experimentar. A água a escorrer de seu rosto, pingar de seus dedos, molhar o seu cabelo enquanto você mesmo parece se esvair junto com ela, enfim livre dessa matéria que chamam de corpo. Enfim parte do mundo.
O frio da camiseta molhada é apenas o frio, o arrepio da água nos braços é apenas o arrepio. Não há mais roupa, não há mais braços. Há apenas a água espetacularmente simples a molhar. Há apenas líquido. Você é a chuva.
Enquanto a melodia de ruídos acontece, você é o silêncio. O pingar mínimo de uma gota numa vastidão de sons. Trata-se apenas de sentir o que você nunca é de verdade.
Aí, chegar molhado (e somente você nesse estado) ao seu destino torna você o único pateta a não ter um guarda-chuva.
O único pateta que pode sorrir para os espertos que se esquivam da chuva. Da gloriosa chuva.

Comentários

Unknown disse…
Ahhh, a sensação é gostosa demais, o problema é ter que proteger os fones pra não molharem e estar de chinelo andando no meio das poças. Shit XD

Preferi não pensar nem falar muito, sentir é mais gostoso (:
B. disse…
A palavra 'pateta' não combinou com o tom culto da narrativa. =p

Também não consegui relacionar o título ao texto, já que o mesmo não tem nem mesmo as características de um haikai, por mais 'mal feito' que fosse.

Esclareça-se por msn, depois. :]


Bom texto, btw.
Uma pena que eu já não curta mais chuva tanto quanto antes. D:
Anônimo disse…
Texto simplesmente lindo. :)

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