Tenho pena.
- É bem fácil - disse o irmão mais velho de Gustavo - Você pega a bateria, coloca na boca e vai sentir um choquesinho levinho. Não dói, juro. Se não sentir, é que ela tá descarregada. Fácil.
Demonstrou. Pegou uma bateria do pote da esquerda e colocou na boca. Retirou após alguns segundos e, segurando com o indicador e o polegar, disse:
- Carregada. Vou usá-la. - e saiu do quarto.
Em cima da mesa improvisada com o criado mudo e uma tábua, haviam quatro potes, dois cheios de baterias e dois vazios. Rodrigo e Gustavo tinham se proposto a ajudar o irmão mais velho de Gustavo, que ia pagar pra eles alguma merrequinha no fim. Uns cinco reais pra cada, talvez.
Começaram. Rodrigo pegou uma bateria do pote cheio da esquerda, colocou na boca, fez uma careta e a retirou, enquanto Gustavo fazia o mesmo com uma bateria do pote cheio da direita.
- Dói sim. - disse, por fim.
- É. - concordou o outro.
E assim seguiram. Pote cheio, bateria, careta, pote vazio. Mesmo com a dorzinha suave, Gustavo estava estupidamente feliz. Conversavam entre si, entre uma bateria e outra, e estavam um ao lado do outro, rindo, se divertindo. Um ao lado do outro.
As cadeiras muito juntas, as mãos rápidas e as caretas momentâneas pareciam fazer muito bem a Gustavo. Rodrigo era seu melhor amigo, se conheciam a uns quatro ou cinco anos, estavam constantemente juntos.
Algum tempo depois, tanto o pote cheio quanto o pote vazio estavam meio-cheios - para rodrigo - ou meio-vazios - Gustavo. Foi então que gustavo acidentalmente pegou uma das últimas baterias do pote vazio de Rodrigo, sem querer e a colocou na boca. Os dois pararam. Rodrigo começou a rir.
- Hahaha! Essa daí tava cheia da minha baba! - disse, tirando uma bateria da boca.
Gustavo mais que rapidamente tirou a bateria, com cara de asco, e a colocou de volta no pote de onde tinha pego. Fez uma pausa, enquanto Rodrigo pegava outra bateria do pote cheio. Então Gustavo olhou para os potes, meteu a mão no pote vazio de Rodrigo, e pegou algumas baterias, colocando-as na boca.
Rodrigo olhou pra ele com cara de quem não entendeu. Gustavo, por outro lado, não olhou pra ele. Os olhos baixos, o sangue pulsando mais rápido, um frio nas pontas dos dedos, o choque já não muito suave maltratando sua língua.
As sombrancelhas vincadas de Rodrigo foram gradativamente se suavizando. Ele desviou o olhar para os potes, pegou do pote vazio de Gustavo algumas baterias e também as enfiou na boca. Olhou para Gustavo decidido. Surpreso, o outro encarou de volta. Ficaram se olhando por alguns segundos, tremendo, o choque ainda insistente na boca. Ao mesmo tempo, levaram ambos as mãos até os lábios, retiraram as baterias, colocaram-nas em qualquer pote que a mão alcançou e sentiram os rostos se aproximarem, a respiração do outro cada vez mais evidente, o tremor ainda zanzando por ali. Em alguns segundos estavam sentindo a respiração, o contato, sem que os olhos vissem qualquer coisa. A sensação engraçada guiou as mãos, ainda trêmulas, o cérebro quase parando de funcionar, o mundo já não existindo. O suave choque, não na boca, e sim no peito, inquieto.
- Mas o que é isso?! - gritou o irmão mais velho de Gustavo, e aí sim o choque doeu.
Comentários
Que coisa, eu imaginei a cena, em detalhes. Bom, nem preciso elogiar muito que a gente sabe que você é BOM.
Mas essa estorinha eu amei, sério, mesmo.
Gostei muito, principalmente porque foi simples, e direto sem ser estupidamente rápido, pelo contrário, foi super sutil :D
Apesar de meio confusa a parte de bateria pra cá, bateria pra lá e a confusão dos potes, achei q desenvolveu bem e o "clímax" foi no mesmo ritmo, não foi uma coisa brusca, deixou seu texto super agradável (:
Uma mistura de Blanka, Pikachu e yaoi muito divertido 8D
Não tenho certeza, acho que esse é o continho que eu mais gostei dos q vc fez o/
Keep kicking butts!
Tipo, perfeitamente imprevisível. Se fosse um garotinho e uma garotinha, ficaria bem claro, mas você surpreendeu, se ligou?
Also, já testei esse negócio da bateria na língua. E que fique bem claro que eu fiz isso SOZINHO Ò_Ó