Fruteira.
Dizem que severina ia uma vez por semana a feira para cantar os feirantes. Que ela tocava com toda a sua sensualidade nos melões, acariciava lentamente as bananas, acolhia os pepinos delicadamente, quase uma prostituta das frutas. Era severina entrar na rua da feira e os gritos de "Olha a laranja, moça, baratinho!" cessavam, a tensão bloqueava a respiração de todos os homens transpirantes de testosterona que precisavam urgentemente de uma paquera descompromissada.
Não que severina fosse bonita, imagina. Ela era bem feia, pra ser franco, tanto de rosto quanto de corpo. Não atrairia olhares em parte alguma que não naquela feira. Talvez fosse esse o motivo de continuar indo até lá, exibir-se em sua passarela particular, jogando charminho para cara macho que, sendo ainda mais sincero, também não eram exemplo de beleza. O que importava era que severina era uma das atrações da feira, e, tal qual homens olhavam a miss-fruta com certa volúpia, as donas de casa conservadoras a encaravam com desprezo, abriam espaço para não ter de respirar o mesmo ar que aquela vagabunda. O efeito de tal ato - talvez até condenável - por parte das senhorinhas menos atiradas era que o caminho da feira se abria como uma romã (e melhor analogia não há) de onde saía e passava severina flertando com os feirantes.
Mas um dia, severina encontrou uma rival, num domingo silencioso. A feira estava meio murcha, tal qual as frutas e os legumes, e severina foi a andorinha solitária que fez verão na rua povoada de barraquinhas. Ergueu os ânimos de todos os presentes, ouviu até mais assobios do que o comum, seu ego inflou e ela tornou-se uma modelo nacional de um comercial do suco Tang. Esbanjando toda a sua sensualidade, severina caminhou no asfalto quente em sua mais moderna chinela havaiana e, categoricamente, esbarrou na perua loira de salto alto, microsaia e tomara que caia vermelho bordel. Esbarrou tão categoricamente, se essa expressão é realmente possível, que a vadia derrubou sua sacola de compras e as frutas e verduras rolaram coloridas pelo asfalto preto. A arrogância de severina vencera a beleza triunfante da outra putinha.
Ou ao menos foi assim, até que ela, espantada com a atitude de severina, passou a recolher sensualmente os produtos do chão quente. As posições, a forma como ela se locomovia, os dedos roçando as cascas dos alimentos, não demorou cinco segundos para que os feirantes dessem vivas para a atuação, provavelmente não proposital.
E foi assim, todo dia de feira depois: severina entrava toda esbelta, balançando o corpo e seduzindo o abacate, mas ineficiente perto da capacidade feminina da concorrente. Reduzida ao esquecimento, severina tornou-se só uma dona de casa que, com repulsa, abria caminho para a nova diva do hortifruti.
Comentários
é isso?
Normal, tenho futuro como severina -q [fake. nem sei onde fica a feira]
=****
A primeira cópia já iria ter comprador aqui.
Diz aí: Quando sai o seu primeiro livro de crônicas?
A primeira cópia já iria ter comprador aqui. [2]
Ok, no caso, a segunda cópia.
Foi assim que começou essa onda de Mulher Melancia, Mulher Moranguinho, Mulher Melão e Mulher Tomate? :D
Diz aí: Quando sai o seu primeiro livro de crônicas?
A primeira cópia já iria ter comprador aqui. [3]
E eu juro que atrolepo os outros dois pra ser o primeiro a comprar essa budega quando sair. :B