O balé dos infelizes
A banda começa a tocar, e a sinfonia de gritos, tapas e angústias são ouvidas a quilômetros. Um espetáculo para poucos. Muito poucos.
Vem o primeiro movimento do primeiro dançarino: o benefício da dúvida.
"Você não acredita em nada do que eu digo, certo?", canta.
Em resposta, o segundo concorda. Giram pelo quarto, agarrando os próprios cabelos, enfezados e a gritar injúrias. Se odeiam simultaneamente, para que haja simetria.
O terceiro está de peso, de juiz, apenas no meio do palco. Não concorda com nenhum dos dois, não toma partido. Está apenas para que o centro não fique vago.
O primeiro dançarino ataca pra valer: ofende até a alma do segundo, e este, por sua vez, parece destruído, então cai em lágrimas. Nesse instante, o terceiro, até então neutro, vai em direção ao primeiro para espancá-lo. O segundo intervém, mesmo que quisesse que o terceiro batesse, não queria que o primeiro apanhasse. O primeiro, sabendo de toda essa marcação, se faz de durão, demonstra que não tem medo do terceiro.
O segundo diz que vai ligar para a polícia. O primeiro incentiva, diz que duvida que ele seja capaz. De fato, não o é: faz por que sabe que o terceiro vai impedí-lo.
Aí o primeiro diz que vai sumir pra sempre. Se dirige a porta, sabendo que o vão impedir, e quando é impedido vê o próximo movimento do segundo: a tão temida ameaça de suicídio. Que nunca veio e nunca virá, todos sabem, mas fingem que não para cumprir o espetáculo.
A coisa termina com o primeiro se rebaixando aos outros dois. Se depara com a falta de opção, que está sozinho na empreitada. E não é somente por que os outros dois não lhe dão apoio. É por que ninguém lhe dá.
Está completamente só, e parte então para a cochia para poder chorar as lágrimas que não estão previstas no roteiro.
Fecham-se as cortinas.
Comentários
Also, já é dia 2 e sem nenhuma outra atualização, tá diminuindo o ritmo? =P
(se bem que, olha quem fala, né.