Metáfora alimentar
Imagine que a sua vida é uma coxinha. É, uma coxinha. Daquelas bem grandes, que custam um assalto mas compensam cada centavo gasto, desde a massa a todo o recheio esplendoroso.
A dúvida é: como você come coxinha?
Algumas pessoas vão direto pro melhor, comendo a coxinha "por baixo", mordendo de cara o recheio. Se deliciam em algumas bocanhadas, mastigando o saboroso frango em meio à pouca massa. E, logo depois, partem pra massa que, agora que já se provou o maravilhoso frango, parece mais sem graça que nunca. Droga! O frango, ápice da coxinha, estragou todo o sabor da massa e fez ela parecer totalmente sem gosto, sem sal, sem tempero. Sem vida! Droga de massa ridícula, viu.
Outras pessoas, por sua vez, comem a coxinha por cima, engolindo a parte sem graça primeiro e, gradativamente, sentindo que o frango se aproxima. Vem aquela coisa branca de trigo e sem gosto, com a casquinha comum, e vai aumentando de tamanho até - nham! - o frango. E aí estoura de prazer em sentir o frango desfiado substituindo a massa sem graça. Se diverte com toda aquela loucura de sabor, o impetuoso tempero e o fim abrupto. Acabou-se a cozinha, justo quando finalmente estava sendo aproveitada. Nem dá tempo de se conformar, quando vê já está engolindo e sobra só o papel sem sabor na mão, ainda pior do que a massa.
Agora, quantas pessoas comem a coxinha de lado? Mordem o frango, saboreiam com prazer, depois mordem o frango com a massa, tanto prazer quanto insosso misturados numa só mordida fenomenal. Partem, então, para o processo inverso, comendo massa e frango e, por último, só frango. Estouro no começo, muito bom no meio, incrível no fim. O frango está lá, em todos os momentos! Mesmo misturado à chatice da massa, ele se faz valer, salta ao paladar invariavelmente.
Proponho, portanto, que comamos a nossa coxinha de lado. Deve haver algum ponto baixo nessa forma de comer coxinha, mas ainda não tentei. Se, vierem a tentar e descobrirem-no, pode ser que eu já esteja com o papel solitário na mão, ao ponto de engolir o frango.
Comentários
E ah, eu começo pela parte ruim e insossa, o desprazer faz o resto ser muito melhor.
Até porque não acho que dê pra esperar que o meio, o começo e o fim sejam maravilhosos, gradualmente.
:*