O macaco (ou "o que costumam chamar de auto-estima")
Minha mãe foi perder uma manhã da sua vida numa daquelas feiras matinais próximas à 25 de março. Bugigangas de todos os tipos à venda e, claro, ela trouxe algumas pra casa, com o sorriso de orelha à orelha, encantada com tamanha formosura dos objetos made in taiwan. Sonhadora, exibiu para nós diversas tranqueirinhas alegres que ganhavam vida com um bom par de pilhas AA, dentre elas um macaco de pelúcia, daqueles de grudar no vidro da janela. Colocou as pilhas AA nele e mostrou a todos nós (por todos nós me refiro à mim e a minha irmã mais velha) que o macaco assobiava a cada vez que alguém passasse na frente dele. Um perfeito canalha bissexual, diga-se de passagem, e ela achou encantador.
Era só um sensor de luz, e rendeu umas boas risadas nos dois primeiros dias. Em especial quando minha irmã estava atarantada procurando o salto enquanto arrumava o cabelo, passando de um lado para o outro da sala e, portanto, sendo cantada pelo macaco pedreiro. Umas oito vezes o assobio deu-nos o ar de sua graça, e sempre que ele aparecia, não vou negar, havia um ar de sorriso em todas as bochechas, provavelmente involuntário. Mas rimos de verdade quando, depois de encontrado o sapato de salto alto e bico fino, minha irmã passou diante dele e ele, seguindo à sua natureza, assobiu, e ela o mandou ir cagar. Tudo bem, nem foi realmente engraçado, mas o sorriso sincero finalmente pode sair sem culpa.
Mas depois dos quatro primeiros dias, passou. Ninguém mais se quer tinha ar de riso pendurado na bochecha para o macaco, e ele estava começando à enxer. Era assobio em cima de assobio, em especial durante a manhã, quando eu queria era dormir. Durante a tarde, com o retardado aqui acordado, o estapafúrdico macaco ficava quieto, já que não havia ninguém em casa.
Foi numa dessas tardes que eu passei em direção ao banheiro e, portanto, pela sala, na sua frente. Ele assobiou pra mim e eu o ignorei. Mas ao olhar no espelho, confesso que me observei com cuidado e pensei que somente um macaco sem olhos pra me achar atraente ao ponto de me cantar. E voltei pro meu quarto, sendo cantado de novo.
Olhei-me no espelho do meu quarto, onde a iluminação favorece os meus traços (???) e, por motivos obscuros, me senti até um rapaz bonito. Percebi que as espinhas estavam quase invisíveis, de pequenas, e que o meu cabelo estava de uma forma bacana. Até meu sorriso saiu sincero. Parei. E voltei para o banheiro.
Assobio.
O cara no espelho agora tornava-se um galã de novela, do tipo que as donas de casa suspiram quando olham. Não era sexy, mas dava pro gasto. Me atrevi até a sorrir mostrando os dentes que, pasmem, eram brancos e certinhos. Voltei pro quarto.
Assobio.
O cara era tipo o Brad Pitt, cobiçado por todos, cachorrinho da Angelina Jolie. Bonitão, aparentando ter vinte anos a menos do que tinha na real. Meu Deus, quem era aquele homem no meu espelho? Voltei pro banheiro.
Assobio.
Os flashs captavam o melhor ângulo do rapaz gostoso que atravessava a passarela em meio à assobios e gritos gerais, com uma barba rala de dar arrepios de tão perfeita, um cabelo castanho meio arrepiado, um sorriso maroto e um tanto sacana, as mãos no bolso. Parei de frente pro macaco e fiquei passando e voltando, passando e voltando, passando e voltando.
Quando a minha irmã entrou na sala e eu percebi que, na real, eu era só um nerd pançudo de boné.
Eu e minha irmã concordamos que o macaco ajudaria mais sem as pilhas.
E eu agradeci a deus por não ser fútil.
Era só um sensor de luz, e rendeu umas boas risadas nos dois primeiros dias. Em especial quando minha irmã estava atarantada procurando o salto enquanto arrumava o cabelo, passando de um lado para o outro da sala e, portanto, sendo cantada pelo macaco pedreiro. Umas oito vezes o assobio deu-nos o ar de sua graça, e sempre que ele aparecia, não vou negar, havia um ar de sorriso em todas as bochechas, provavelmente involuntário. Mas rimos de verdade quando, depois de encontrado o sapato de salto alto e bico fino, minha irmã passou diante dele e ele, seguindo à sua natureza, assobiu, e ela o mandou ir cagar. Tudo bem, nem foi realmente engraçado, mas o sorriso sincero finalmente pode sair sem culpa.
Mas depois dos quatro primeiros dias, passou. Ninguém mais se quer tinha ar de riso pendurado na bochecha para o macaco, e ele estava começando à enxer. Era assobio em cima de assobio, em especial durante a manhã, quando eu queria era dormir. Durante a tarde, com o retardado aqui acordado, o estapafúrdico macaco ficava quieto, já que não havia ninguém em casa.
Foi numa dessas tardes que eu passei em direção ao banheiro e, portanto, pela sala, na sua frente. Ele assobiou pra mim e eu o ignorei. Mas ao olhar no espelho, confesso que me observei com cuidado e pensei que somente um macaco sem olhos pra me achar atraente ao ponto de me cantar. E voltei pro meu quarto, sendo cantado de novo.
Olhei-me no espelho do meu quarto, onde a iluminação favorece os meus traços (???) e, por motivos obscuros, me senti até um rapaz bonito. Percebi que as espinhas estavam quase invisíveis, de pequenas, e que o meu cabelo estava de uma forma bacana. Até meu sorriso saiu sincero. Parei. E voltei para o banheiro.
Assobio.
O cara no espelho agora tornava-se um galã de novela, do tipo que as donas de casa suspiram quando olham. Não era sexy, mas dava pro gasto. Me atrevi até a sorrir mostrando os dentes que, pasmem, eram brancos e certinhos. Voltei pro quarto.
Assobio.
O cara era tipo o Brad Pitt, cobiçado por todos, cachorrinho da Angelina Jolie. Bonitão, aparentando ter vinte anos a menos do que tinha na real. Meu Deus, quem era aquele homem no meu espelho? Voltei pro banheiro.
Assobio.
Os flashs captavam o melhor ângulo do rapaz gostoso que atravessava a passarela em meio à assobios e gritos gerais, com uma barba rala de dar arrepios de tão perfeita, um cabelo castanho meio arrepiado, um sorriso maroto e um tanto sacana, as mãos no bolso. Parei de frente pro macaco e fiquei passando e voltando, passando e voltando, passando e voltando.
Quando a minha irmã entrou na sala e eu percebi que, na real, eu era só um nerd pançudo de boné.
Eu e minha irmã concordamos que o macaco ajudaria mais sem as pilhas.
E eu agradeci a deus por não ser fútil.
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