Conto instantâneo tipo miojo
Havia uma casa em um morro. Esse morro, um certo dia, desapareceu. A casa continuou lá no alto, como se o morro ainda estivesse sob ela.
Os moradores foram obrigados a fazer encomendas aéreas de comida pra sobreviver. Os moradores recebiam a pizza de sábado via para-quedas. Os moradores ficaram sem dinheiro.
Eles entraram em desespero, e passaram a se alimentar de folhas de papel. Não durou, celulose não alimenta ninguém. Então atacaram o canário da família. Nem uma noite. Então atacaram o cachorro. Se sentiram coreanos e só comeram quando o estômago falou muito mais alto. Então tentaram alimentação solar, mas eles não eram vegetais o bastante. Um dos filhos se aventurou à comer um musgo. Morreu envenenado, e, então, tornou-se alimento do resto da família. A família inteira tornou-se canibal. Comeram-se uns aos outros, até sobrarem dois familiares que viviam como animais reais e fugiam um do outro, numa caça sobre quatro patas, com tesouras servindo como garras. Um deles venceu a guerra. O outro foi comido.
O que sobrou ficou completamente só.
Já não sabia mais mexer em telefones. Não vestia roupas. Vivia no escuro da casa vazia. Sozinho.
E o mundo acompanhando a história toda em um reality show aproveitador realizado pela maior empresa de comunicações da Terra. Ninguém enviou um transporte aéreo pra salvar a família.
O único ser - talvez não mais humano - ficou sozinho em casa. Sozinho até morrer de fome. E solidão.
Depois disso, tornaram a casa parte integrante de um parque temático, construíram uma nova também suspensa, sem chance de escape e enfiaram uma nova família lá. A audiência vinha em primeiro lugar, claro.
Estamos na vigésima terceira edição. São três famílias, convivendo o quanto podem, se comendo, se matando, pra ter o mesmo fim. Prêmio nenhum. Nem os que estão dentro da casa nem os que os assistem por uma televisão holográfica são algo além de seres humanos. Única e exclusivamente humanos.
Os moradores foram obrigados a fazer encomendas aéreas de comida pra sobreviver. Os moradores recebiam a pizza de sábado via para-quedas. Os moradores ficaram sem dinheiro.
Eles entraram em desespero, e passaram a se alimentar de folhas de papel. Não durou, celulose não alimenta ninguém. Então atacaram o canário da família. Nem uma noite. Então atacaram o cachorro. Se sentiram coreanos e só comeram quando o estômago falou muito mais alto. Então tentaram alimentação solar, mas eles não eram vegetais o bastante. Um dos filhos se aventurou à comer um musgo. Morreu envenenado, e, então, tornou-se alimento do resto da família. A família inteira tornou-se canibal. Comeram-se uns aos outros, até sobrarem dois familiares que viviam como animais reais e fugiam um do outro, numa caça sobre quatro patas, com tesouras servindo como garras. Um deles venceu a guerra. O outro foi comido.
O que sobrou ficou completamente só.
Já não sabia mais mexer em telefones. Não vestia roupas. Vivia no escuro da casa vazia. Sozinho.
E o mundo acompanhando a história toda em um reality show aproveitador realizado pela maior empresa de comunicações da Terra. Ninguém enviou um transporte aéreo pra salvar a família.
O único ser - talvez não mais humano - ficou sozinho em casa. Sozinho até morrer de fome. E solidão.
Depois disso, tornaram a casa parte integrante de um parque temático, construíram uma nova também suspensa, sem chance de escape e enfiaram uma nova família lá. A audiência vinha em primeiro lugar, claro.
Estamos na vigésima terceira edição. São três famílias, convivendo o quanto podem, se comendo, se matando, pra ter o mesmo fim. Prêmio nenhum. Nem os que estão dentro da casa nem os que os assistem por uma televisão holográfica são algo além de seres humanos. Única e exclusivamente humanos.
Comentários
Eu deixei de fazer miojo viu,
uma chef jamais se alimentaria de miojo.
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Engraçado como as coisas relatadas no conto, parece com algo que passou na tv a um tempo atras...
")
Eu assistiria (h)
Não devemos sempre subestimar Esopo, principalmente nas noite chuvosas.