Conto instantâneo tipo Hot Pocket
Quando o psicólogo abriu os olhos de manhã, percebeu que o teto do seu quarto, justamente sobre a sua parte da cama de casal, estava rachado, e a tinta parecia pretender cair a qualquer momento.
Ficou olhando para o teto abobado, desprendido do mundo e pensando como o seu teto era feio e inútil, e como ele podia cair sobre a sua cabeça a qualquer momento.
Levantou-se e viu a mulher na cozinha, tomando uma xícara de café. Não disse bom dia, não disse nada: pegou uma outra xícara de café e juntou-se à ela, no silêncio absoluto. Ia reclamar do teto, mas tinha pouco mais de quatro minutos pra abrir o consultório.
Dirigiu até o outro lado da cidade, preso num transito infernal, pensando no teto e no que poderia fazer com ele. Talvez pudesse ignorá-lo e esperar que finalmente caísse, ou talvez pudesse chamar um reparador de tetos. Não achava que existissem, de fato, reparadores de teto. Não se importava muito com profissões que não psicólogos.
Chegou ao consultório, se enfurnou na sala e esperou quinze minutos pelo primeiro cliente. Ele entrou, debateu sua vida desafortuna, cheia de problemas psicológicos e emocionais, e o Psicólogo o ouviu com prazer: adorava isso.
Mas algo entrava em sua mente o tempo todo: o maldito teto. Ouvia pedaços das explicações, perguntava com frases incompletas, remetia-se, as vezes, a expressões manjadas que demonstravam total falta de atenção. Quinze minutos depois, o paciente havia saído da sala com a promessa de um suicídio e o psicólogo nem havia notado.
Seguiu-se a mesma coisa com diversos outros. Seu cerébro, corroído, evitava palavras que não compostas por mais de três letras, embora em geral usasse expressões inúteis e cheias de floreios. Chegou a hora do almoço e ele estava dizendo "sei" para a almofada do sofá vazio.
Voltou para casa, decidido a arrumar o teto. Passou batido pelo bilhete da mulher que dizia "Beijos, converse com meu advogado sobre a separação", ignorou completamente o cachorro estranho urinando no sofá, e, depois de pegar ferramentas e massa corrida na lavanderia, foi em direção ao quarto.
O teto havia caído e sujado toda a sua parte da cama.
Ele caiu de joelhos e ficou ali, observando o quão sua vida acabava de se tornar infeliz.
Ficou olhando para o teto abobado, desprendido do mundo e pensando como o seu teto era feio e inútil, e como ele podia cair sobre a sua cabeça a qualquer momento.
Levantou-se e viu a mulher na cozinha, tomando uma xícara de café. Não disse bom dia, não disse nada: pegou uma outra xícara de café e juntou-se à ela, no silêncio absoluto. Ia reclamar do teto, mas tinha pouco mais de quatro minutos pra abrir o consultório.
Dirigiu até o outro lado da cidade, preso num transito infernal, pensando no teto e no que poderia fazer com ele. Talvez pudesse ignorá-lo e esperar que finalmente caísse, ou talvez pudesse chamar um reparador de tetos. Não achava que existissem, de fato, reparadores de teto. Não se importava muito com profissões que não psicólogos.
Chegou ao consultório, se enfurnou na sala e esperou quinze minutos pelo primeiro cliente. Ele entrou, debateu sua vida desafortuna, cheia de problemas psicológicos e emocionais, e o Psicólogo o ouviu com prazer: adorava isso.
Mas algo entrava em sua mente o tempo todo: o maldito teto. Ouvia pedaços das explicações, perguntava com frases incompletas, remetia-se, as vezes, a expressões manjadas que demonstravam total falta de atenção. Quinze minutos depois, o paciente havia saído da sala com a promessa de um suicídio e o psicólogo nem havia notado.
Seguiu-se a mesma coisa com diversos outros. Seu cerébro, corroído, evitava palavras que não compostas por mais de três letras, embora em geral usasse expressões inúteis e cheias de floreios. Chegou a hora do almoço e ele estava dizendo "sei" para a almofada do sofá vazio.
Voltou para casa, decidido a arrumar o teto. Passou batido pelo bilhete da mulher que dizia "Beijos, converse com meu advogado sobre a separação", ignorou completamente o cachorro estranho urinando no sofá, e, depois de pegar ferramentas e massa corrida na lavanderia, foi em direção ao quarto.
O teto havia caído e sujado toda a sua parte da cama.
Ele caiu de joelhos e ficou ali, observando o quão sua vida acabava de se tornar infeliz.
Comentários
Contos e mais contos.
Adoro isso.
Não tenho muito o que comentar, só a respeito a sua ótima escrita.
Maravilhosa vida, desse ser.
Não deixe para fazer depois o que pode fazer agora, seu teto está caindo? Ligue agora mesmo para 3333-3333, consertamos em apenas 30 minutos.
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