Merchandising Metafórico.

Nas prateleiras da seção de papel higiênico, vejo inúmeras marcas - todas com nomes ridículos, diga-se de passagem.
O carrinho vai, pacientemente acompanhando minha caminhada enquanto eu fico na dúvida sobre qual levar. São tantos. Qualidades e preços diferentes, valores de mais a se considerar. Muito me preocupa essas equivalências. Preciso de espaço, de tempo. Preciso pensar.
Os papéis me olham indagativos. É a primeira vez que passo tanto tempo ali, olhando-os e analizando-os. Muitos ficam animados: nunca tinha realmente dado uma chance para eles mostrarem se são bons e baratos. Falta confiança em um papel baratinho desses. Não deve prestar. Outros desanimam-se com essa hesitação. Sabem muito bem que, se forem realmente observados e comparados, são ruins e caros. Não prestam mesmo, e sabem muito bem disso. A marca de sempre me olha, também indagadora. Ela não precisa realmente que eu, em específico, a compre. Está cheia de outros consumidores, tem dinheiro transbordando nos bancos, e é cara mas excelente. Excelente?
Eu posso ser só mais um dos consumidores dessa marca especialmente escolhida de sempre. Acostumei-me à observar que ela já havia se acostumado comigo e eu com o seu contato. Eramos praticamente um. Percebi meu nível de intimidade com algo que eu achava que conhecia tão bem visto os anos de convivência.
Não vou negar: me bateu uma grande dúvida quanto à integridade da marca. O papel higiênico pareceu perceber que eu não tinha mais tanta certeza sobre sua maciez, sua eficácia e sua desenvoltura. Deu de ombros. Eu não valho mais do que dois pacotes por mês.
Dei uma chance à uma marca mais barata, e descobri que ela é, se não mais, tão eficiente quanto a de sempre. E tem pacotes coloridos e divertidos, não sóbrios e sérios de mais.
Acostumar-me com essa novidade é questão de tempo. No meu íntimo - me perdoem o trocadilho - sei que vai ser complicado. Mas vai passar.
E quando os outros compradores perceberem que a marca não é excelente, como eu percebi, vão abandoná-la por alguma outra marca. E ela vai falir.
Quem sabe então, ela não vai realmente querer ser excelente? Quando, talvez, já for um pouco tarde de mais.

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