Você é mesmo um menino?

Imagine-se você, ser humano, legal, do sexo masculino (as meninas não tem tanto essas frescuras), barbudo e, completamente convicto de que tem um pênis descobrindo, subitamente, que sua condição de menino é irreal. Você tem uma vagina, amigo, útero e tudo mais. Um completo e complexo órgão genital feminino. Céus, o seu mundo viraria de cabeça pra baixo, não?
Pois bem. Isso aconteceu, de verdade. Não comigo, apesar de por minha culpa (?).
Imaginem que eu me encontro com o gato mais lindo de todos os tempos. Olhos azuis, brincalhão, um amor. Me derreti por completo. Céus, eu precisava que ele fosse meu. Mas não era, ele já tinha dono. O gato que eu sempre pedi a Deus era de um amigo meu. Que podia fazer? Conviver com o fato de que nunca ia arranjar um gato desses pra mim.
Acostumei-me com o fato: o gato não era meu e tudo que eu pudia fazer era me aproveitar dele o máximo que pudia, brincando o tempo inteiro enquanto ele se entusiasmava. Um mês de paquera com o gato que não era meu, e que eu jamais poderia ter, mas ainda assim, brincava o máximo que podia. O que o destino me reservava ( e reservava também ao dono do gato, e talvez até ao próprio gato) é algo tão imprevisível que poderia ter saído de uma imaginação muito fértil. Não foi o caso.
Coloquei o gato de barriga pra cima e analizei suas partes baixas. A surpresa me veio: não havia pênis. O pobre felino - sim, referia-me MESMO a um gato - ou havia feito alguma cirurgia para troca de sexo ou havia convencido a todos, me incluindo aí, que era macho. Por Deus, não. O gato era uma gata.
Snow Bell, nome do infeliz gatinho(a), é ao menos um pouco andrógino. Ao que eu tive essa subita revelação, virei-me imediatamente para o dono do mesmo, e disse:
- Ed carlos, isso é um gato?
O ser humano dono do(a) gato(a) mais lindo(a) da face da Terra respondeu que sim. Pois eu revidei:
- Então por que ele tem uma vagina?
O baque no garoto foi muito grande. Ele pegou o gato e ergue diante dos seus olhos, analizando os órgãos genitais. A decepção veio estampar seu rosto, e ele ficou olhando para o(a) gato(a) com uma cara que dizia abertamente "você não pode fazer isso comigo".
Fui contar a novidade a mãe do dono do(a) gato(a). Era meu dever, e talvez a salvação do pobre xaninho.
- Uh, eu tenho uma notícia pra senhora. - comecei, em tom de dúvida.
- Sim?
- O seu gato - estendi o animal diante dela, de barriga pra frente, pendurado pelo que eu suponho poder chamar de "axilas" - é uma gata.
A senhora embasbacou-se da mesma forma que o filho. Pegou o(a) gato(a) e ficou mirando o seu órgão genital. Talvez quisesse mudar o fato com o olhar. Terminou por dizer:
- Já não basta uma tartaruga macho que chama "Manuelita".
Pois agora pergunto-me. Quem me garante que, um dia, eu não venha a encontrar a mãe do dono da gata e não tenha de dar-lhe a seguinte notícia:
- Então, senhora. O seu filho também não é um menino.
Certeza absoluta que ela me olharia com ar de piada e perguntaria:
- Por que, ele também tem uma vagina?
- Não, não é bem por isso que ele não é um menino. É mais ou menos assim...