Mista sim, senhora.

Devo ser gentil com os pobres escravos que não tem culpa de trabalharem aqui.
- Qual o preço do McFlurry? - comecei.
- Quatro e setenta.
CÉUS, a senhorita quer minha cueca também?!
- Ora, tudo bem.
- Mas não vai dar pra fazer, por causa da massa.
- Tudo bem então, uma casquinha, por favor.
- Pode ser mista?
Acenei com a cabeça. Mudei de idéia.
- Não pode fazer o McFlurry com a massa mista?
Ela parou. Ficou encarando o monitor, sem ação. Ela não podia fazer o McFlurry com massa mista. Devia ser alguma regra que, se quebrada, perturbaria a ordem natural das coisas.
- Isso é um "Não pode não."?
- É que... - começou ela - eu já registrei, não dá pra cancelar.
Não moça, não precisa de uma desculpa tão esfarrapada para disfarçar o quanto os gerentes desse treco já corroeram seu cérebro. Eu sei que você já decorou os lugares que o copo, o hamburguer e a batata frita ficam sobre a bandeja, também, e fica irritada quando alguém muda de lugar. Tudo bem, a senhora não pode fazer um sorvete diferente para mim, mesmo que contra a minha vontade.
- Tudo bem, tudo bem. Uma casquinha, mesmo.
- Mista?
- Tenho opção?
Ela virou meio sem graça, pegou uma casquinha e dirigiu-se até a máquina. A máquina recusou-se em criar o sorvete com formato de cocô de desenho, e expeliu ele de uma vez, espirrando no uniforme (quase) limpo da energúmena. O ódio a tomou (e o riso a mim), e ela jogou o sorvete que caiu torto na casquinha fora. Seguiu-se a cena mais duas vezes. Meu sorriso dizia claramente "NOOB", mas ela talvez não fosse nerd o bastante para desvendá-lo. A minha casquinha, torta e estranha, finalmente saiu.
Apesar dos pesares, pobre garota. Sei que você vai colocar todos os ítens com o "M" amarelo voltado pra mim, e torço para que a lavagem cerebral seja remediável.
É tão difícil assim fazer um pedido diferente para mim? Sim, sem picles.