A mediocricidade de um ponto final

Carrego agora até a frente o paradoxo de quão importante e quão estúpido é um ponto final. Observem-me tirar a fantasia alegórica que haviam vestido na questão por entre as regras, para que se pensasse que o ponto final era de suma importância e que para ele nada era inegável. A mais pura balela, uma mentira de máscara.
Trago-lhe a regra: Necessitamos de algo que imponha um fim. Um fim, apenas. O ponto final encarrega-se de trazer a frase uma afirmação, uma negação, mas, sobretudo, uma verdade. Algo que se é afirmado, mesmo que negativamente, traz consigo uma certeza, um ponto. Uma fabulosa transformação de dúvida em fato, de questionamento em resposta, de debate em julgamento. Um disfarce próprio que pretende apenas mostrar o quão certo uma pessoa se encontra ao afirmar, com todas as letras, alguma coisa e meter um gracioso e ganancioso ponto final junto à última palavra.
A intolerância me relembra, todavia, a hipocrisia que é juntar um ponto final junto ao fim de uma frase que tem por princípio "Talvez". Supõe-se que, como se afirma algo incerto, o talvez traga a certeza incerta, a resposta questionável, o julgamento discutível. Porém, ele faz mais que isso. O talvez transforma o ponto final, ainda com cara de fim, em interrogação. Mete-lhe na cara um nariz de palhaço, manda-lhe fazer a melhor expressão de dúvida que lhe convém, e torna-o medíocre e indiscreto. Propõe a ele uma função que caberia muito melhor a outro ponto, que não é seguro como ele, mas sim fugaz, mutável, tanto na situação quanto na forma.
Ora, mas e por que não lembrar-nos que tal situação não existe na vida do ponto de interrogação? Ele é apenas o que é, mesmo que um certamente venha lhe fazer graça no começo da oração, continuará desempenhando o papel de uma dúvida indiscreta e desleal. O magnífico baile intertextual propõe a ele que não abandone as raízes, enquanto o inepto ponto final, tão mais aristocrata e mais incontestável, veste a primeira roupa colorida que oferecem e muda de idéia para confundir quem tem certeza.

Comentários

Anônimo disse…
Seu sem coração.
Tadinhos dos pontos finais ç_ç

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