Onomatopéia de relógio um, Onomatopéia de relógio dois, Onomatopéia de relógio um [...]

Tão mágico o fato de que de manhã, quando o meu cérebro se recusa a sair daquele sonho erótico que se mescla com a minha ereção matinal numa orgia que daria inveja a Baco, uma mísera pedrinha e mais uma porção de engrenagem tragam-no de volta a realidade, numa investida contra meus olvidos, num tilintar surdo do metal sobre o metal que o meu despertador faz tanta questão de tão harmoniosamente soar. Seis da manhã e o maldito mostra à que veio ao mundo, põe em funcionamento sua existência, deixa de marcar horas para proibir-me mais uns momentos de sono que eu bem sei me fariam ter menos olheiras e uma melhor cara para saudar as pessoas com um "Bom dia" sincero, e não um murmúrio amedrontador que pareça com um "Vá se danar".
Aquela mísera pedrinha chamada Quartzo me destrói toda a alegria de me encontrar deitado sob o mais gostoso edredom azul que alguém já pretendeu inventar, traz a tona toda a preguiça que uma manhã permita, desperta pouco mais que a minha angustia e o meu olho esquerdo - o direito se recusa a abrir - e por fim se mostra meu inimigo mortal na busca de um dia agradável.
Ah, como eu adorava dormir até as onze, sabendo que minhas aulas só começariam daqui a muito tempo. E não faz nem duas semanas que era assim. Como é triste perceber que um par de ponteiros e uma pedra ridícula controlam sua vida, seja na hora de levantar, na hora de comer, na hora das necessidades fisiológicas ou o que mais o relógio puder controlar. E se o seu relógio é digital, não se felicite, não é uma boa idéia.
Aí quando nós olhamos direito para o relógio e vemos que acidentalmente o colocamos pra despertar quinze minutos antes do que devíamos, nós resolvemos que rolar na cama é o melhor estímulo para levantar e, portanto, começamos o maravilhoso ritual que resulta, em geral, no acordar perfeito. O problema é quando o sono já foi todo embora e você percebe que ainda sobram dez minutos, e você passa a rolar na cama por obrigação, o edredom já te botando pra fora, a cama agonizante para que você deixe-a sozinha. Mas não, são dez minutos "a mais" pra você dormir, e a dura tarefa de perder tempo na cama mostra-se tão ruim quando a de sair dela no horário.
Ao menos os relógios são decididos.

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