(Des)ânimo!

Ah, caiu a ficha. Eu comprei os cadernos (não de patos, por que infelizmente eles REALMENTE não existem), muni meu estojo com canetas novas, arranjei uma lapiseira e separei o uniforme para que eu não tropece nele amanhã quando o sono for maior que a minha altura - o que é algo realmente grande. Sim, minhas aulas só começam amanhã e eu finalmente vou voltar à rotina, sem patos.
Eu não ligaria, realmente, se fosse voltar para a rotina como ela estava no fim do ano passado: o dia inteiro correndo de um lado para o outro, fazendo cursos e mais cursos, problemas em cima de problemas, e um par de fones de ouvido tocando alguma música animadora para eu, e somente eu, ouvir.
Meu ânimo partia daí, dessas melodias que me traziam alguma vontade de continuar indo até onde eu devo ir, suportar os insuportáveis, perder o imperdível e transpor coisas que nem mesmo eu supus ser capaz de transpor. Eu podia tudo se tivesse um pouco de alguma música que me agrade tocando enquanto eu realizasse o que quer que fosse. Era quase o super-homem.
Mas o fone quebrou - Kriptonita.
Agora, eu sou o mais incapaz dos seres humanos, o mais desmotivado dos pedestres, o mais irresponsável dos alunos. Sou menos que pude ser um dia. Sou menos do que qualquer coisa realmente inútil que você puder pensar. Os fones me trazem toda a alma que eu realmente tenho, e eu acho realmente divertido perceber que talvez eu não seja o único.
Todos, incluindo qualquer tipo de pessoa, andam com fones de ouvido por aí. Jovens, idosos, seja qual for a idade, cada um com o seu fone ligado a seu aparelho tecnológico ouvindo sozinho a sua música. Cada um a sua própria música. Sozinho.
Os fones que me animam (e animam outras pessoas também), são uma imagem de individualidade perfeita: você, sem incomodar ninguém, se diverte com coisas que te agradem, que te animam. As pessoas a sua volta não compartilham a mesma música com você, mas quem disse que elas compartilham também o mesmo gosto? Quem disse que elas realmente querem ouvir o que quer que seja que anda tocando nos seus fones? Eu tenho certeza de que elas muito possivelmente não querem.
Não sei se posso chamar isso de egoísmo - até por que não é exatamente o caso de não querer dividir, e sim o fato de os outros não quererem que se divida -, mas eu acho a situação simplesmente perfeita: ninguém se intrometendo na música de ninguém, dando palpite nenhum, se importando com nada, ouvindo só o que realmente quer e fim de história.
Ah, que lindo mundo individual que eu estou sendo privado, sem ter os fones que eu poderia utilizar muito bem para ignorar todos que fazem parte desse outro mundo! Ânimo, ânimo.