Os cadarços que me vestem.

Dois pares de tênis esperam pacientemente um metrô que anda se recusando a aparecer na estação. Os pés, detro dos pacientes tênis que esperam divergem em paciência. Um par de pés, juntamente com um par de tênis caminha impacientemente de um lado ao outro, se locomovendo enquanto espera, talvez pensando em um zilhão de problemas que anda tendo. Incluindo, no meio dos problemas, o metrô que não vem.
O outro par de pés, assim como o par de tênis, aguarda também não muito paciente, todavia, sem dar um único passo amarelado que seja. Um único movimento de nervos. Completamente estáticos, os pés e os tênis. Pensam, também, em todos os problemas que têm, em como o metrô demora, e em como o outro par de tênis está agindo de forma interessante ao demonstrar toda a sua impaciência em atos anormalmente mecânicos. Orgânicos, apenas na escolha do caminho. E o metrô, que não vem.
A manhã do primeiro par de tênis foi composta por um pouco de problemas. Andou muito numa chuva mais molhada e incolor que qualquer outra que já presenciara. E também não tinha muita vontade de ter saído nessa chuva atrás de um terceiro par de tênis que esperava sem paciência nenhuma pelos outros dois.
O segundo par de tênis teve uma manhã praticamente igual, com a diferença de que o dono dos pés que o calçavam estava num mal-humor sofrível e pouco disfarçado. A chuva, ainda por cima, molhava-o de maneira peculiar, já que ele nunca havia se molhado, e portanto estreava uma sensação nova e que - pra ser franco - não lhe agradou muito.
Cada par de tênis, ali, esperando - todos os três, quero dizer - cumpriam sua funcionalidade, de calçar os pés. Os donos dos pés, todavia, não cumpriam nenhuma de suas funcionalidades e, portanto, eram apenas mais um desperdício no espaço, até finalmente o metrô chegar e a situação funcional não mudar nenhum um pouco. Só a impaciência.